OPINIÃO
A MACABRA ARTE DO
POUCO CASO
Por
Marcos Ivan de Carvalho
Parece que se institucionalizou a arte do
pouco caso em todos os segmentos do existir brasileiro.
Destaque-se, de antemão, a seriedade de
muitos profissionais especializados em promover a Justiça, outro tanto de
administradores e um bom número de fazedores de leis. Entretanto, a coisa
se complica pelo próprio comportamento daqueles que se postam nos pilares do
“num tô nem aí com a torcida”, como já rezava a gíria do século passado.
Alguns exemplos:
01 – Shopping Pátio Pinda, numa tarde de
dezembro. Enormes cartazes na vitrine de uma loja anunciavam promoção de ponta
de estoque. Entramos para ver. No mesmo instante estavam por lá duas
representantes da fiscalização específica para o comércio. Órgão estadual.
Questionaram uma das atendentes, aparentemente dona do estabelecimento, a
respeito da não exibição de preços nas mercadorias expostas na vitrine. Na base
do pouco caso, do deboche, a moça retrucou que não deveria existir autuação
pelo simples fato de não estarem os preços exibidos. Sorria ironicamente, ou
talvez “medrada”, mas não levava muito a sério a situação. Foi quando uma das
responsáveis pela fiscalização perguntou se possuíam na loja o Código de Defesa
do Consumidor. O mesmo foi exibido e a mocinha debochada foi informada: “No
código existe a obrigação de se informar os preços na vitrine”. Balde d’água na
cara da moça. O auto infracional, corretamente, foi lavrado. Em se considerando
o deboche, inclusive dos demais atendentes da loja, o preço da rapadura até que
ficou barato…
02 – Muitas faixas anunciando eventos já
ocorridos se espalham por pontos estratégicos da cidade. Algumas cidades do
Estado mantêm projetos sociais que reutilizam o material dessas faixas para a
confecção de sacolas. Em nossa cidade parece que há um pouco caso por parte dos
responsáveis pela remoção do material publicitário e. por isso, muitas vezes as
faixas ficam “balangando” ao sabor do vento já que, geralmente, têm um lado de
suas amarras rompido.
03 – Proprietários de bares deitam e rolam com o
mau uso das calçadas, depositando sobre elas mesas e cadeiras para uso de seus
frequentadores. Com isso, fazem seu discurso do “que se danem” para os idosos,
portadores de deficiências, grávidas e até mesmo crianças. Todo esse público
que merece atenção, fica exposto ao risco de acidentes por ter de circular pelo
leito carroçável das vias, no qual muitas vezes vários condutores pouco “se
lixam” com quem vai e vem a pé, já que se acham os justos usuários das ruas e
avenidas. Haveria pouco caso da fiscalização de posturas?
04 – Para arrematar, neste nosso comentário: a
terceira edição da Virada Inclusiva, realizada no sábado 05 de dezembro, não
contou com a presença de autoridades. Nem do Legislativo, muito menos do
Executivo. Será que excluíram essa gente da agenda de compromissos? Certamente
era, como o é, um compromisso sério se aproximar, de dar valor ao procedimento
daqueles que, mesmo sem pernas para andar ou sem olhos para ver, correm atrás
de seus direitos, olham para a possibilidade de melhor qualidade de vida.
Falta, entretanto, a real vontade cidadã, senão a política. Portadores de
necessidades especiais não esmolam atenção, muito menos piedade. Reivindicam
respeito, carinho, fraternidade. Despojamento é receita para haver inclusão
desses brasileiros de todas as idades. Enquanto os supostos representantes do povo
se ausentam, numa possível justificativa de não se exporem ao controle da Lei
Eleitoral, os deficientes terão maior deficiência no atendimento de suas
reivindicações. Sem contar aqueles políticos paraquedistas ou papagaios de
piratas que correm na contramão da história e cerceam ações públicas no gesto
mais descarado de politicagem barata.
Resumo
da ópera: o pouco caso de muitos, hoje, pode ser a lâmina que os decepará de
boas oportunidades amanhã. Depois, não adianta vir dando uma de “João sem
braço”. Afinal, serão vítimas do próprio gesto símio de “não ver, não ouvir,
não falar nada”.
Pouco
caso, aborte esse comportamento de sua rotina diária. Não deboche da
possibilidade de ser melhor e merecer a recíproca boa em seus momentos de
dificuldade.
Penso
assim, por isso assino.
Marcos Ivan de Carvalho - Jornalista MTb
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