sábado, 13 de junho de 2015

CARTA AO SUPREMO


Carolina Ramos

Dispensável o auxílio da Informática e também toda e qualquer ajuda postal que me possam oferecer. Esta carta tem autossuficiência para chegar ao destinatário. Tem endereço certo! Ao assunto, sem mais rodeios:


SENHOR... sim, é  mesmo contigo que me atrevo a falar. E peço, de início, que me perdoes a intimidade do pronome, que me deixa mais à vontade e me ajuda a chegar mais perto de Ti.
Sei que já passaste os olhos benditos pelos escaninhos deste mundo e não gostaste do que viste! Pudera! A coisa está mesmo feia! Sufocamos! Nem quase é mais possível respirar! Desestabilizado por tantas loucuras, Teu mundo... este maravilhoso mundo, que nos deste de presente, está prestes a explodir, fragmentado em detritos fétidos! Olha os rios! Imundos! Veios enfartados de um corpo doente! Corpo em que pululam vidas assassinas em constante ameaça a outras formas viventes. As nascentes são engolidas! Secam! A linfa, pura e cristalina, tem agora cor e gosto de lama, a sugerir ao homem que a contagem recessiva já começou. As florestas tombam! Ninguém as repõe! A goela de fogo das queimadas famintas, devora riquezas, sem limites!
Calma, Senhor! Quem sou eu para acusar-Te?! Bem sei que a curta distância, estás longe de ter culpa alguma! Mas... pensa comigo: - em última análise, se é Tua a obra magistral da Natureza, não é possível negar ser obra Tua, também, aquele que a aniquila, gradativamente, sem parar para pensar... e sem o mínimo arrependimento, sequer! Foste ou não foste, Senhor, o autor desse “capeta” que saudoso do inferno, que sequer conhece, (mas onde já deve  ter o pé), empenha-se em criar, por aqui,o seu inferninho particular, que a tantos atormenta?! Sim, é do homem que falamos! Aliás, eu falo! Tu, Senhor, com infinita paciência, ouves! Ouves, com a altivez machucada de Pai desapontado, o que eu, cabeça baixa, atrevo-me a dizer-Te! Logo eu, humilde e atrevido fruto que sou, dessa categoria irresponsável - o que, indiretamente, me faz cúmplice dessas incríveis maluquices!
Pela parte que me toca, penitencio-me contrita, pelas faltas cometidas e pelas não cometidas, também. Que mais posso fazer?!
         Agora... Tu, SIM! És o dono do próprio Universo e podes fazer o quanto mais quiseres!. E, nesse mais, inclui-se a salvação de tudo! Esquece, Senhor, o que confiante nos deste e que, arrogantes, chamamos de livre arbítrio, sem sequer sabermos como usá-lo com coerência! Esquece! Não peço que dês jeito ao mal já feito, e sim, àquele capeta que tanto mal já fez e que, sem a Tua interferência, muito mal continuará ainda a fazer!
         Conscientiza Teus filhos! Controla nossos desmandos! Defende-nos, Senhor, de nós mesmos, para que, livres da cegueira que nos incapacita, possamos ver a que ponto nos levam nossas tresloucadas ações!
         E se não é pedir demais, segura, com mãos, fortes e sábias de Juiz mas, também, ternas e bondosas de Pai, essa bola que é o nosso pobre mundo! Bola com desamor chutada como brinquedo inútil, por pés moleques e irresponsáveis! Protege-a com ternura, antes que essa bola se perca no irremediável, ou murchefurada!

Apressa-Te, Senhor,antes que tudo se acabe!...Ou melhor...antes que acabemos com tudo...definitivamente!

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