JOSÉ FEGHALI: TRIBUTO AO MAGNÍFICO
PIANISTA QUE
ENCANTOU O MUNDO E PROJETOU O BRASIL (28.3.1961 - 8.12.2014)
Jorge Béja
Jorge Béja
Dois
filhos. Dois meninos, Fernando e José. Duas crianças. O piano que o pai comprou
foi para Fernando. Mas José ficava prestando atenção às aulas que a
professora vinha em casa dar ao irmão, no apartamento da Rua Dona Mariana,
em Botafogo, no Rio. Um dia, José disse à professora que tudo que ela havia
ensinado a Fernando ele sabia tocar. Surpreendida com o
que ouviu, José sentou-se ao piano e comprovou: tocou tudo, sem
erro e com técnica apurada. Fernando de Almeida Feghali se tornou excelente
engenheiro civil. E José de Almeida Feghali, o pianista que o Brasil
e o mundo conheceram, se encantaram e aplaudiram sem cessar.
O INÍCIO
O INÍCIO
Predestinado
e prodigioso, José Feghali deu seu primeiro recital de piano com 5 anos de
idade. Aos 8, tocou com a Orquestra Sinfônica Brasileira no Teatro Municipal do
Rio. E seguiram-se outras apresentações. Aos 15 anos de idade, foi morar em
Londres, onde continuou seus estudos na Royal Academy of Music. Em 1985 foi
medalhista de ouro no Concurso Internacional de Piano Van Cliburn, nos Estados
Unidos, tornando-se o segundo e último brasileiro a vencer aquele
concorrido certame. E nos EUA Feghali fixou residência em Fort Worth, no
Texas, tornando-se desde 1990, professor de piano da Escola de Música
da Universidade Cristã no Texas. O magistério, porém, não alterou a rotina de
concertos por todos os estados da América do Norte e pelo mundo: Canadá,
México, Reino Unido, França, Portugal, Holanda, Espanha, Áustria, Alemanha,
Itália, Polônia, Turquia, China...Feghali se apresentou com as mais importantes
orquestas: Filarmônica de Berlim, Concertgebouw de Amsterdam, Rotterdam
Philarmonic, Gewandhaus de Leipzig, BBC Philarmonic, London Symphony,
Birmingham Symphony, Sinfônica Nacional da Espanha, Filarmônica de Varsória,
Sinfônicas de Xangai e Pequim....
VIAGENS AO RIO
VIAGENS AO RIO
José
Feghali sempre vinha ao Rio, para estar perto de sua mãe, Senhora Áurea de
Almeida Feghali, do irmão Fernando, perto da família, dos amigos e
para apresentações por todo o país. Em todos os seus recitais,onde quer que
fossem, sempre tocava peças de compositores brasileiros,
previamente incluídas no programa ou como "bis": Ernesto
Nazareth, Francisco Mignone, Heitor Villa Lobos...Feghali foi um apaixonado
pelo nosso Brasil e pelos talentos musicais brasileiros. Feghali foi
um embaixador que divulgou a cultura musical nacional e projetou nosso
país.
PERTO DE FEGHALI (I)
Anos atrás, após ter sido o solista, à
tarde, do dificílimo Concerto Para Piano e Orquestra nº 3
de Sergei Prokofiev com a OSB no Teatro Municipal, Feghali ofereceu,
naquela mesma noite de
sábado, um concorrido jantar para familiares e amigos em um restaurante em
Botafogo. Conhecendo-o bem e sabendo que José era uma pessoa muito bem
humorada, divertida e sem a menor vaidade, perguntei a ele, durante o jantar:
"Feghali, como você se sente tocando peças de seu próprio tio?". Pego
de surpresa, respondeu: "Mas que tio, Jorge?". "Mozart", respondi. Foi
quando José entendeu o nos brindou com o seu belo sorriso. Toda a família
também riu muito. Era uma referência ao senhor Mozart de Almeida, austero
pai, tio, avô e irmão de sua mãe, senhora Áurea de Almeida Feghali.
PERTO DE FEGHALI (II)
Num
outro encontro somente nosso, numa segunda-feira seguinte a uma
outra apresentação sua no Teatro Municipal do Rio, levei José Feghali
para almoçar no restaurante Assyrius, que naquela época funcionava do andar
térreo do Teatro Municipal, com entradas pela Avenida Rio Branco e Avenida 13
de Maio. Chegamos por volta das 12.30 horas. O veterano maître e o dono
do Assyrius anunciaram a todos a presença de José Feghali.
Imediatamente, cerca de 100 pessoas que ocupavam todas as quase 20
mesas do Assyrius se levantaram e aplaudiram. E Feghali não se fez de
rogado. A pedido, foi para o piano do Assyrius (um surrado Steinway &
Sons), e tocou. Nosso almoço somente começou lá pela 2 da tarde e
terminou por volta das 17 horas. De lá, rumamos para a casa de José Feghali, na
Rua Dona Mariana. Foi quando Feghali me presentou com dois CDs seus
"Valsas Nobres". Em ambos, a dedicatória: "De um
pianista para outro pianista".
QUANTA DOR
Doi, doi muito, saber que José Feghali desde o
dia 8 de Dezembro último não está mais entre nós. O mundo perdeu o mais
sensível, o mais talentoso, o mais portentoso e belo pianista que a humanidade
conheceu. A respeito da manchete do The Dallas Morning News, que indagava "O que deu
de errado?", numa alusão à morte de
Feghali, é Rita de Almeida, uma de suas primas e
admiradoras quem respondeu: "Nada de excepcional, apenas, por um instante, a doença o
venceu. A depressão endógena é uma doença que mata e pouco se fala dela".
E Rita afasta as especulações sobre o suicídio do primo: "Acaba-se imputando ao seu fim -- a morte -- conjecturas,
circunstâncias outras menores, que nada têm a ver com a realidade do fato" (em www.ornews.com.br).
Adeus, muito amado José Feghali (José de Almeida Feghali). Também repito a prima Rita: "Bravo, bravíssimo José". Todos repetimos. Todos choramos. Sentida e sofrida, a humanidade agradece por tudo que você fez e pelo encantamento que nos proporcionou. Nada mais merecido do que trocar o nome da Rua Dona Mariana, em Botafogo, para Rua Pianista José Feghali. Vamos lutar por tão justa homenagem, junto à Câmara de Vereadores.
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