quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


BENTO XVI: COVARDIA OU DENÚNCIA?

Elenquei aqui no Blog, sem medo de errar, o pano de fundo da penca de motivos para a renúncia do Papa. Fui dos poucos a dizer quando todos, inclusive Bento XVI, falavam exclusivamente de doença. Sinalizei para a corrupção, pedofilia, e escândalos camuflados. Não coloquei em dúvida a debilidade da saúde do pontífice octogenário. Apenas acresci que a doença, no mínimo, teria sido agravada por tudo isso.

Pois o próprio Papa ontem veio a público dizer, em tom de censura, que há divisões, trafico de influência e muitas vaidades na Igreja Católica Apostólica Romana. Mais ainda que no tempo de Lutero, Calvino e de mártires incendiados por ela.

Resta saber como a história vai escrever o gesto no futuro. Se covardia ou denúncia. O fato é que, pela primeira vez, um Papa vem a público mostrar as entranhas rançosas da hierarquia católica.

É preciso ter muita saúde...

Mas continuo com a mesma opinião de que um Papa, para ser coerente com a unção que imagina ter recebido dos céus, não pode renunciar, apesar do decreto em causa própria feito por Celestino V, admitindo a possibilidade canônica. Disse e reafirmo como estudioso, que comungo do mesmo pensamento do jurista Jorge Béja quanto a matéria:  

O mandato que um papa recebe é divino, transcendental, metafísico... irrenunciável, portanto. Não lhe pertence. Tanto é verdade que a cada sessão do conclave os cardeais entoam o “Veni Creator Spiritus, Mentos Tuorum Visita” (Venha Espírito Criador, Venha Visitar Nossas Mentes). Logo, a pedido, o Divino Espírito Santo desce e penetra na mente dos cardeais no momento de preencher aquela cédula em que está escrito apenas isso: "ELIGO SUMMUS PONTIFICI CARDENALIS..........". Depois, as cédulas são queimadas. É um ritual sério, divino...”.

Não sei se encontro explicação ou justificativa para o que faz o Papa Bento XVI nesse momento difícil e corrupto na Igreja, feita pelos homens em nome de Deus. Mal comparando, o gesto da renúncia, assim como um suicídio, pode ser visto como covardia, sob o ponto de vista da fuga ao foco principal... Só que às vezes, o choque provocado por ambos – suicídio ou renúncia - é muito mais forte do que tentar continuar combatendo o mau combate, dentro de uma estrutura minada, apodrecida, pela impunidade de séculos. É denúncia eficaz!

Falei e disse!

Um comentário:


  1. Aegroto dum anima est, spes est.
    Uma instituição que sobreviveu ao grande cisma do século XI; ao pontificado de Alexandre VI no século XV e a grande reforma no Renascimento, sobreviverá com certeza também a presente crise “pós-moderna” e a tudo o mais até o final dos tempos! Pedro tu és Pedra...

    Raul Ribas

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