BENTO
XVI: COVARDIA OU DENÚNCIA?
Elenquei aqui no Blog, sem medo de errar, o
pano de fundo da penca de motivos para a renúncia do Papa. Fui dos poucos a
dizer quando todos, inclusive Bento XVI, falavam exclusivamente de doença. Sinalizei
para a corrupção, pedofilia, e escândalos camuflados. Não coloquei em dúvida a
debilidade da saúde do pontífice octogenário. Apenas acresci que a doença, no
mínimo, teria sido agravada por tudo isso.
Pois o próprio Papa ontem veio a público
dizer, em tom de censura, que há divisões, trafico de influência e muitas
vaidades na Igreja Católica Apostólica Romana. Mais ainda que no tempo de
Lutero, Calvino e de mártires incendiados por ela.
Resta saber como a história vai escrever o
gesto no futuro. Se covardia ou denúncia. O fato é que, pela primeira vez, um
Papa vem a público mostrar as entranhas rançosas da hierarquia católica.
É preciso ter muita saúde...
Mas continuo com a mesma opinião de que um Papa,
para ser coerente com a unção que imagina ter recebido dos céus, não pode
renunciar, apesar do decreto em causa própria feito por Celestino V, admitindo
a possibilidade canônica. Disse e reafirmo como estudioso, que comungo do mesmo
pensamento do jurista Jorge Béja quanto a matéria:
“O mandato que um papa recebe é divino, transcendental, metafísico... irrenunciável,
portanto. Não lhe pertence. Tanto é verdade que a cada sessão do conclave os
cardeais entoam o “Veni Creator Spiritus, Mentos Tuorum Visita” (Venha Espírito
Criador, Venha Visitar Nossas Mentes). Logo, a pedido, o Divino Espírito Santo
desce e penetra na mente dos cardeais no momento de preencher aquela cédula em
que está escrito apenas isso: "ELIGO SUMMUS PONTIFICI
CARDENALIS..........". Depois, as cédulas são queimadas. É um ritual
sério, divino...”.
Não sei se encontro explicação ou justificativa
para o que faz o Papa Bento XVI nesse momento difícil e corrupto na Igreja,
feita pelos homens em nome de Deus. Mal comparando, o gesto da renúncia, assim como
um suicídio, pode ser visto como covardia, sob o ponto de vista da fuga ao foco
principal... Só que às vezes, o choque provocado por ambos – suicídio ou
renúncia - é muito mais forte do que tentar continuar combatendo o mau combate,
dentro de uma estrutura minada, apodrecida, pela impunidade de séculos. É denúncia eficaz!
Falei
e disse!
ResponderExcluirAegroto dum anima est, spes est.
Uma instituição que sobreviveu ao grande cisma do século XI; ao pontificado de Alexandre VI no século XV e a grande reforma no Renascimento, sobreviverá com certeza também a presente crise “pós-moderna” e a tudo o mais até o final dos tempos! Pedro tu és Pedra...
Raul Ribas