quinta-feira, 31 de janeiro de 2013


LOGO A CAIXA ?

O jurista carioca Jorge Béja, leitor assíduo desta coluna, escreve para denunciar algo que se passou na Caixa Econômica Federal e que nem a metafísica teria como explicar. Algo que curiosamente produz dificílima expiação a Allan Kardec. Não o druida Gaulês reencarnado, no iniciado maçon Hippolyte Léon Denizard Rivail para codificar O ESPIRITISMO, a partir das mesas giratórias da velha Paris de 1850. Mas um xará humilde, cuja saga foi sobreviver a um erro médico no parto, cujo destino colocou no protetorado gratuito do advogado, penalizado com sua dura sina.

Béja patrocinou com êxito sua causa indenizatória. Mas a Caixa Econômica Federal decidiu parar de creditar a verba depositada religiosamente pela União, inopinadamente.

A dura realidade do Kardec pós-moderno levou o combativo jurista a percorrer pessoalmente e por sucessivos e-mails, todos os pavimentos da história da Caixa Econômica Federal. Desde o tempo em que ela foi erguida para ser “o banco dos pobres”. Observem, por isso mesmo, que foi longe no túnel do tempo...

“O professor Rafael Renz ensina, a respeito da Caixa Econômica Federal, que a instituição foi fundada em 1861 com o nome Caixa Econômica Federal de Monte de Socorro. Que a CEF, desde sua criação e até hoje, tem por finalidade ser o "banco dos pobres que, há 150 anos, ajuda a realizar o sonho dos brasileiros e que era quem guardava o dinheiro dos escravos para a compra da liberdade". E tendo nos dias atuais 85 mil funcionários, 2 mil agências de 60 mil pontos de atendimento em 5561 municípios ,"é ela estruturada para melhorar a vida das pessoas, tendo como missão atuar na promoção da cidadania e no desenvolvimento do país, primando pela ética com o cliente e na valorização do ser humano". (http://acasadoconcurseiro.com.br).

De tudo isso sabemos nós, brasileiros. E quando, numa determinada época de sua altiva história, a CEF sai fora daquela trilha e se distancia do povo a quem a CEF pertence, é dever de todos nós partir em defesa da instituição, que é publica, para que não se perca, não se desmoralize, não se extingua. Do fato a seguir, sucintamente narrado, deixo que o leitor tire sua própria conclusão. Que é trágico, é. Allan Kardec de Souza nasceu em 26.12.1982, numa clínica de São Gonçalo (RJ) conveniada com o então INAMPS. Nasceu inteiro e sadio. Dias depois, Allan teve toda a sua perninha direita amputada desde a virilha. "A amputação era preciso, mãe, porque o bebê apresentou cianose do membro inferior direito, decorrente de cardiopatia congênita", disseram os médicos. Sem a perna, Kardec foi para casa. Que dor!!!

Em Maio de 1983, em nome do filho, seus paupérrimos pais ingressaram na Justiça Federal do Rio com ação de indenização. Trinta anos depois, Allan venceu. A justiça concluiu que houve erro médico e que aquela criança, agora já adulta e morando no "bas fond" da periferia de Brasília, jamais tinha sido portadora de cardiopatia congênita. É intuitivo afirmar que Kardec não teve infância, adolescência, mocidade, nem condições de estudar, tamanho o estigma que carrega desde o nascimento. A União restou condenada ao pagamento de indenização e, dentre as verbas, pensão mensal alimentícia vitalícia.

Em Agosto/2010, o Ministério da Saúde implantou a pensão de Allan e passou a depositar a pensão alimentícia na agência 0625/RJ da CEF. Pontualmente e ao longo de 23 meses a pensão vinha sendo depositada na referida agência que a transferia para a caderneta de poupança de Allan e este sacava o dinheiro em Brasília. Ocorreu que em Julho/2012, a agência da CEF, sem comunicar ao juiz, sem avisar ao advogado de Allan, nem a este próprio, teve o gesto malvado de não fazer mais os repasses. E o que é pior: estornou ao Ministério da Saúde as pensões de Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro de 2012, que deveriam ser transferidas para a poupança de Allan!!!

As explicações da agência são variadas: ora de que a conta receptora onde o Ministério da Saúde depositava "se encontrava encerrada desde 19.10.2009". Ora de que "conta poupança não poderia mais receber verba pensional". E, por fim, que desta mesma conta receptora, "os levantamentos dependiam de alvará". Explicações conraditórias , estapafúrdias e desencontradas, uma vez que a referida agência conhecia pessoalmente Allan e sua situação de vida.

Foi quando, como advogado de Allan, obtive os secretos e-mails do presidente da CEF, arquiteto Jorge Hereda, do seu gabinete, da ouvidoria, do SAC e da própria ouvidora, Naira Tatsu. Caso contrário, qualquer reclamação seria pelo famigerado 0800. À aqueles, e por e-mail, pedi socorro e a responsabilização do(s) funcionário(s) da agência que levaram Allan a passar fome, desde Julho/2012. Nas mensagens, após tudo relatar, transcrevi os artigos do Estatuto da CEF, aprovado por Decreto nº. 6473/2008 do então presidente Lula, sem faltar o art. 48 que diz, textualmente, que cada brasileiro, quando busca a ouvidoria," tem a garantia de uma atuação pautada pela transparência, independência, imparcialidade e isenção...".

Foi inútil. A ouvidoria ouviu a gerência da agência e a "explicação" dada a mim foi repassada. Nada mais. Atuou a ouvidoria como órgão transmissor de recado: ouve o reclamante, ouve a parte reclamada, para depois dizer ao reclamante o que da parte reclamada ouviu. E a responsabilização pela malvadeza e total falta de pudor e ética que, subitamente, a agência cometeu contra Allan, não constou da pífia "conclusão" fornecida na última hora do 30º. e derradeiro dia previsto no Estatuto da CEF para a apuração das responsabilidades.

Registro que neste instante em que redijo este artigo recebi ligação da Chefia do Jurídico da CEF em Brasília. Falou-me o jovem (35 anos de idade) advogado da CEF, Dr. Tiago, funcionário há 11 anos da instituição. Primeiro ouvi. Depois falei eu. Disse da crueldade que a agência 0625 cometeu contra Allan. Que iria levar o caso à Comissão de Direitos Humanos da ONU e ao Tribunal da OEA (Pacto de São José da Costa Rica), a quem o cidadão pode apresentar petição de queixa contra seu próprio país. Educado e bastante amável, o Dr. Tiago disse-me que ele próprio cuidaria para que a CEF enviasse correspondência de desagravo a ALLAN e que as responsabilidades funcionais seriam apuradas, inclusive com o concurso da Comissão de Ética. Quanto à regularização da pensão (o pagamento dos meses estornados e a continuidade dos depósitos, que já tinham sido ordenados pela Dra. Juíza da 29a. Vara Federal do Rio), tudo estaria resolvido imediatamente. Oxalá que tudo isso aconteça. É nosso dever defender a CEF, patrimônio do povo brasileiro. Mas deixo uma reflexão, para encerrar: e aqueles sem voz, os tímidos, os idosos solitários, a gente simples do povo, os enfermos? Teriam condições de brigar, obstinadamente, como briguei?”.

Jorge Béja é advogado no Rio e defende Allan Kardec há 30 anos, gratuitamente.

Um comentário:

  1. Pessoas como o Dr. Jorge Béja estão cada vez mais difícil de se encontrar. Que belo coração, sua atitude em defender o Pobre Allan não me surpreende. MIl vivas ao Dr. Jorge Béja.
    Marcio Mendes Cabral

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