CARLINHOS, CADÊ VOCÊ?
Por Jorge Béja
Carlinhos (Carlos Ramires da Costa), sexta-feira passada, 2 de Agosto
de 2013, fez 40 anos que você foi sequestrado de sua casa, na Rua Alice, 1616,
no bairro Laranjeiras, aqui no Rio de Janeiro. Naquele dia, às 8:30 da noite,
um homem portando um revólver e com o rosto parcialmente coberto por um lenço,
invadiu o portão de sua casa, foi até a sala onde você, sua mãe e irmãos assistiam
televisão e exigiu “quero o menor”. Este menor, naquele momento era você,
Carlinhos, uma criança que havia acabado de completar 10 anos de idade e foi
levado pelo malfeitor que deixou um bilhete exigindo o resgate de “cem mil
cruzeiros”, uma fortuna, na época. Seu pai conseguiu arrecadar o dinheiro que
não foi entregue, porque o sequestrador nunca entrou em contato. E o dinheiro
foi devolvido a todos os doadores.
De lá para cá, Carlinhos, muitas diligências policiais foram feitas,
todas mal sucedidas e atrapalhadas. Até um funcionário do laboratório de seu
pai, foi indiciado e inocentado pela Justiça. Fui e sou amigo de seu pai, João
Mello da Costa, que um ano após seu sequestro,o encontrei detido na Delegacia
de Caxias quando lhe fui entregar uma doação da senhora Maria Aparecida Gomide,
esposa do diplomata Aloysio Gomide, naquela ocasião cônsul do Brasil em
Montevidéu e que também tinha sido sequestrado pelos “Tupamaros”, braço
armado da guerrilha uruguaia. A esposa do cônsul veio para o Brasil, fez
campanha, conseguiu arrecadar e entregar o dinheiro exigido pelos
sequestradores, o marido foi libertado e a senhora Gomide, comovida com o seu
sequestro, me incumbiu de ir levar até seu pai uma doação financeira e eu fui.
Ao ver seu pai injustamente detido (por obra criminosa de um delegado
de polícia) e sofrendo muito, por conta própria eu me dirigi ao Juiz e pedi a
libertação dele, que imediatamente foi concedida. Trouxe seu pai para a minha
casa, ficamos amigos e juntos passamos a investigar o seu sequestro, com a
polícia e sozinhos. Em 1974 seu pai e eu viajamos até a cidade de Utrech,
na Holanda, para uma consulta com o maior sensitivo daquela época, Gérard
Croiset, mundialmente famoso por encontrar pessoas desaparecidas. Depois veio a
viagem até Bogotá para o encontro com o israelense Uri Geller, que
participava na capital colombiana de um congresso de parapsicologia em que Uri
era a estrela, por seus dons de clarividência.
Nem os nossos apelos à paranormalidade adiantaram, Carlinhos. Seu pai e
eu seguimos todas as indicações e determinações de Croiset e Geller, sem
êxito. Nas diligências contamos com o empenho de polícia, mas em vão. E
até hoje, Carlinhos, seu pai e eu, já idosos, cabelos brancos e pele enrugada,
procuramos por você. Sua mãe Conceição, seus irmãos Roberto, Luciana,
Eduardo, João, Vera e Carmem, todos sofremos. É uma dor que com o passar do
tempo não diminui, mas aumenta. Mas nenhum deles perdeu a esperança de
reencontrar você e, eu, que não o conheci, de vê-lo frente a frente comigo,
abraçá-lo e poder dizer que valeu a pena tanto sacrifício, tanta demora, tanta
angústia...
Escrevo e publico esta carta a você, Carlinhos, porque minha intuição,
mais as revelações a mim segredadas por Croiset e Geller, me convencem de que
você vive. Que em algum lugar você está, hoje com 50 anos de idade. Se você ler
esta minha carta, apareça Carlinhos. Entre em contato com seus pais e irmãos.
Telefone, envie e-mail, mande uma mensagem, um escrito seu para este blog da
Tribuna da Imprensa, ou para qualquer outra pessoa que você possa se comunicar.
E esteja certo de que a pena criminal para o malfeitor que levou você de casa
naquele 2 de Agosto de 1973 está prescrita. A pena para o crime de extorsão
mediante sequestro varia de 8 a 15 anos de reclusão e já são passados 40. Ao
longo de tantos anos, “apareceram” alguns Carlinhos, mas nenhum deles era você.
Até breve, Carlinhos, se Deus quiser.
Jorge Béja
Espero que um dia ele apareça.
ResponderExcluirDeus traga esse filho ao seu lar
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