segunda-feira, 5 de agosto de 2013


CARLINHOS, CADÊ VOCÊ?

Por Jorge Béja

Carlinhos (Carlos Ramires da Costa), sexta-feira passada, 2 de Agosto de 2013, fez 40 anos que você foi sequestrado de sua casa, na Rua Alice, 1616, no bairro Laranjeiras, aqui no Rio de Janeiro. Naquele dia, às 8:30 da noite, um homem portando um revólver e com o rosto parcialmente coberto por um lenço, invadiu o portão de sua casa, foi até a sala onde você, sua mãe e irmãos assistiam televisão e exigiu “quero o menor”. Este menor, naquele momento era você, Carlinhos, uma criança que havia acabado de completar 10 anos de idade e foi levado pelo malfeitor que deixou um bilhete exigindo o resgate de “cem mil cruzeiros”, uma fortuna, na época. Seu pai conseguiu arrecadar o dinheiro que não foi entregue, porque o sequestrador nunca entrou em contato. E o dinheiro foi devolvido a todos os doadores.

De lá para cá, Carlinhos, muitas diligências policiais foram feitas, todas mal sucedidas e atrapalhadas. Até um funcionário do laboratório de seu pai, foi indiciado e inocentado pela Justiça. Fui e sou amigo de seu pai, João Mello da Costa, que um ano após seu sequestro,o encontrei detido na Delegacia de Caxias quando lhe fui entregar uma doação da senhora Maria Aparecida Gomide, esposa do diplomata Aloysio Gomide, naquela ocasião cônsul do Brasil  em Montevidéu e que também tinha sido sequestrado pelos “Tupamaros”, braço  armado da guerrilha uruguaia. A esposa do cônsul veio para o Brasil, fez campanha, conseguiu arrecadar e entregar o dinheiro exigido pelos sequestradores, o marido foi libertado e a senhora Gomide, comovida com o seu sequestro, me incumbiu de ir levar até seu pai uma doação financeira e eu fui.

Ao ver seu pai injustamente detido (por obra criminosa de um delegado de polícia) e sofrendo muito, por conta própria eu me dirigi ao Juiz e pedi a libertação dele, que imediatamente foi concedida. Trouxe seu pai para a minha casa, ficamos amigos e juntos passamos a investigar o seu sequestro, com a polícia e sozinhos. Em 1974 seu pai e eu viajamos até a cidade de Utrech,  na Holanda, para uma consulta com o maior sensitivo daquela época, Gérard Croiset, mundialmente famoso por encontrar pessoas desaparecidas. Depois veio a viagem até Bogotá  para o encontro com o israelense Uri Geller, que participava na capital colombiana de um congresso de parapsicologia em que Uri era a estrela, por seus dons de clarividência.

Nem os nossos apelos à paranormalidade adiantaram, Carlinhos. Seu pai e eu seguimos todas as indicações e determinações de Croiset e Geller, sem êxito.  Nas diligências contamos com o empenho de polícia, mas em vão. E até hoje, Carlinhos, seu pai e eu, já idosos, cabelos brancos e pele enrugada, procuramos por você.  Sua mãe Conceição, seus irmãos Roberto, Luciana, Eduardo, João, Vera e Carmem, todos sofremos. É uma dor que com o passar do tempo não diminui, mas aumenta. Mas nenhum deles perdeu a esperança de reencontrar você e, eu, que não o conheci, de vê-lo frente a frente comigo, abraçá-lo e poder dizer que valeu a pena tanto sacrifício, tanta demora, tanta angústia...

Escrevo e publico esta carta a você, Carlinhos, porque minha intuição, mais as revelações a mim segredadas por Croiset e Geller, me convencem de que você vive. Que em algum lugar você está, hoje com 50 anos de idade. Se você ler esta minha carta, apareça Carlinhos. Entre em contato com seus pais e irmãos. Telefone, envie e-mail, mande uma mensagem, um escrito seu para este blog da Tribuna da Imprensa, ou para qualquer outra pessoa que você possa se comunicar. E esteja certo de que a pena criminal para o malfeitor que levou você de casa naquele 2 de Agosto de 1973 está prescrita. A pena para o crime de extorsão mediante sequestro varia de 8 a 15 anos de reclusão e já são passados 40. Ao longo de tantos anos, “apareceram” alguns Carlinhos, mas nenhum deles era você.

Até breve, Carlinhos, se Deus quiser.

Jorge Béja 

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