NINGUÉM SOUBE, NINGUÉM VIU, NINGUÉM NOTICIOU
Jorge Béja
No início da tarde de terça-feira passada (23), após ter descansado da
maratona de sua viagem do dia anterior, o Papa Francisco acordou na Residência
Assunção no Sumaré determinado a visitar um centro educacional para menores
infratores. “Eu vim para a jornada da juventude e os jovens que cumprem pena
não devem ser excluídos da jornada. Se eles não podem vir a mim, eu é que vou
até eles. Onde fica? “, disse e perguntou o Papa. “Não é muito longe,
Santidade, fica na Ilha do Governador, próximo ao aeroporto onde seu avião
pousou ontem. É o Centro Socioeducacional Dom Bosco, recentemente inaugurado.
“Vou lá. E agora”, decidiu o Papa.
Ordem dada, ordem cumprida. Francisco concordou que sua visita não
fosse divulgada, nem presenciada pelos jornalistas. E despistando a imprensa, o
Papa embarcou em um automóvel preto, indevassável, e com ele dois outros
prelados. O carro do Papa foi seguido à frente por veículos com policiais
federais. Atrás, por viaturas com integrantes da guarda suíça. E assim o
comboio desceu do Sumaré e chegou até a Estrada dos Maracajás, no Galeão, Ilha
do Governador, onde fica o Centro Socioeducacional Dom Bosco, no terreno ao
lado do inferno que era o Instituto Padre Severino. Ao longo do percurso, sem
batedores, a comitiva parou em todos os sinais de trânsito que estavam fechados
e enfrentou alguns congestionamentos, não muito demorados.
Ao chegar, de surpresa, ao referido centro socioeducacional, os
automóveis não tiveram problema para entrar no pátio do estacionamento. Lá
dentro, o Papa desceu do carro e logo foi reconhecido pelos menores, entre 12 e
18 anos, que naquele momento estavam no campo de futebol. Foi uma festa.
Presente, o diretor do centro e demais funcionários não acreditavam no que
estavam vendo e ocorrendo. E no próprio gramado, Francisco se reuniu com
30 menores que lá se encontravam e logo apareceram os 28 restantes, que
estavam nas salas de aula.
O Papa começou dizendo a eles: “Meus jovens, Cristo e a Igreja precisam
muito mais de vocês e vocês de Cristo e da Igreja, do que os outros jovens que
estão lá fora. Todos nós somos pecadores. Todos nós erramos. Mas nem os nossos
erros, nem os nossos pecados nos afastam de Jesus, que continua a nos amar. Em
cada um de vocês Jesus Cristo está vivo e presente. Mas é preciso que alguém
nos diga isso...que cada um de vocês saiba disso...saiba e tenha a certeza
disso. Se vocês não sabem, Jesus não pode se revelar a vocês...porque vocês não
sabem...não conhecem Jesus...e como uma pessoa, que não conhece a outra e nem
sabe que a outra existe e está perto, bem dentro de nós, pode fazer
pedidos?...pode saber que não está só?....que tem em sua defesa um pai
forte, fiel, bondoso e eterno?
E continuou o Papa pregando: “O Papa viajou até aqui, a Cidade do Rio
de Janeiro ,para se reunir com a juventude do mundo todo e milhares e milhares
de jovens como vocês, brasileiros e estrangeiros, já chegaram nesta maravilhosa
cidade, abençoada pela imagem
do Cristo Redentor, lá no alto do morro do Corcovado. Vocês, meus
queridos filhos, que não podem estar lá do lado de fora para se reunir com essa
multidão de jovens, tão cheios de esperança, tão cheios de fé em Cristo Jesus e
na Igreja, fé e esperança que também estão no coração de cada um de vocês ,
vocês não podem ficar esquecidos pelo Papa...o Papa veio até vocês...veio ver
vocês...veio dizer que acredita em vocês...que vocês não mais vão errar, mas
seguir o caminho do bem, da honestidade, da solidariedade, dos estudos, do
trabalho, da formação da família...porque todos nós somos filhos de Deus, somos
irmãos de Cristo Jesus, que também é nosso irmão e nosso pai, que nunca nos
abandona...Se cada um de vocês falar, perguntar e pedir a Jesus...Jesus
ouve...Jesus responde...Jesus atende...para isso é preciso que nossos
sentidos...nossos ouvidos...nossos olhos...nossos corações ...estejam abertos
para Jesus”.
Francisco ainda falou mais àqueles jovens infratores. Pediu que todos
eles “botassem fé em Jesus”. Depois, todos foram para o refeitório onde o Papa
e os internos tomaram suco de uva e comeram biscoitos. Na despedida, o menor
JMB, depois de abraçar e beijar o Papa, disse que a visita dele era a visita do
próprio Jesus. Que ele e outros internos não apenas sentiam Jesus, mas estavam
também vendo Jesus, na pessoa de Francisco. O Papa se emocionou com o depoimento
de JMB, a quem abençoou e falou: “Meu nome de batismo é Jorge Mario Bergoglio,
as mesmas letras iniciais do seu nome...Seremos amigos, pois não? Agora, todos
nós aqui somos amigos,hein?
Essa é uma história que ninguém soube, ninguém viu, ninguém noticiou,
porque, infelizmente não aconteceu, quando deveria ter acontecido.