OPINIÃO
Funcionários da EBC
preparam ação contra a contratação de Sidney Rezende
Os próprios funcionários denunciam a direção da EBC
Jorge Béja
No final da tarde desta quarta-feira, dia 4, funcionários da
antiga TV Educativa e hoje Rede Brasil, que pertence à EBC, me ligaram e
pediram um parecer sobre a contratação do jornalista Sidney Rezende, que foi
despedido da GloboNews, como âncora da TV Brasil, e está sendo contratado com
salário de R$ 480 mil por ano, ou R$40 mil por mês. Contratação sem concurso e
com salário muitas vezes acima da média que é pago à categoria. Um salário
colossal, enquanto o pessoal da casa recebe uma ninharia por mês. A pretensão
dos funcionários, que pediram para não serem identificados, é ingressar com uma
ação popular, contra a EBC e o próprio Sidney Rezende e arrolando também como
ré a própria Dilma Rousseff, para que a Justiça Federal do Rio anule a
contratação.
Eles foram logo me dizendo que somente poderiam pagar no máximo
R$ 4.500 pelo parecer. Respondi que eles nada precisavam me pagar. Um advogado
quando é procurado para dar um parecer para instruir ou para atuar numa ação de
cunho cívico e que visa o interesse coletivo e público e a proteção do erário
nacional, nada deve cobrar para a sua elaboração. Somos todos cidadãos. Eles e
eu. Somos todos lesados. Eles e eu. Somos todos brasileiros. Eles e eu.
Como poderia eu cobrar por um parecer sobre um assunto a
respeito do qual ninguém ganhará um tostão, a não ser o alívio e a satisfação
de ver o Judiciário agir para defender os cofres públicos contra governos
perdulários? Que horror!! Cobrar por trabalho jurídico com tão nobre destinação
é querer ganhar dinheiro de qualquer jeito.
VAMOS AO PARECER
Então respondi a eles que nada cobraria. E que nem deveria
cobrar. E vou elaborar o parecer. E se eles desistirem da ação, pelo motivo que
seja, eu mesmo cuidarei de propô-la, ou a eles me associarei, porque essa
contratação é imoralíssima. A ação popular tem tudo a ver com um processo de
impeachment. Visa a defesa da moralidade e do erário público.
Nos dois últimos anos do governo FHC e nos dois primeiros do
governo Lula, o tarimbado José Carlos Cataldi, jornalista, advogado,
ex-presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, de muitas
viagens internacionais representando a OAB do Brasil e que foi recebido por
Bill Clinton, quando era presidente dos Estados Unidos. Cataldi, um talento na
comunicação social e que já foi o principal âncora da CBN, Cataldi foi
contratado por este mesmo empregador (TVE/EBC) para apresentar um programa
diário, das 18 às 19 horas, ao vivo, de segunda à sexta. Eu também fazia parte
do programa. Cataldi era o apresentador. E eu, diretor jurídico e debatedor
fixo.
FORAM QUATRO ANOS
Cataldi tocou o programa por 4 anos e o programa resolveu mais
de 2 mil casos de consumidores lesados sem que fosse preciso recorrer à
Justiça. O programa chamava-se “Pensando em Você”. Cuidava da difusão dos
Direitos dos Consumidores. Atendia a todos. Até erro médico foi denunciado e
debatido lá. Ninguém se maquiava. Ninguém dava em cima de ninguém, como
acontece nos bastidores de emissoras de televisão. Ninguém fumava. Nem
“baseado” tinha lá.
Tudo era simples e sem pompa, sem vaidades, sem mentiras e
traições. E havia uma banca de notáveis juristas para analisar cada caso que
era exposto na hora pelo consumidor que comparecia ao programa, sem que os
debatedores soubessem do que se tratava, e a Associação de Magistrados do Rio
colaborava muito.
SALOMÃO PARTICIPAVA
O hoje ministro do Superior Tribunal de Justiça e que preside
uma parte do inquérito da Lava Jato, o ministro Luis Felipe Salomão, e mais seu
pai, que era advogado militante, eram dois que compareciam uma vez por semana
cada um. Tinha a doutora Célia Destri, presidente da Associação das Vítimas dos
Erros Médicos (Avermes). Tinha o advogado João Tancredo. A juíza Letícia Faria
Sardas, que também sentava-se à mesa.
Muitos juízes federais compareciam para participar do programa,
que era de altíssimo nível e a todas as classes sociais interessava. Até
Portugal copiou o programa e a Tv portuguêsa (RTP) fez um igual. Era um
programa de máxima utilidade pública. Mas acabou. O que é bom acaba logo.
Explico tudo isso para dizer que José Carlos Cataldi recebia por
mês R$ 1.500 e eu nada recebia. Como é que agora vão pagar 480 mil por ano para
Sidney Rezende? Não vão, não. A Justiça Federal do Rio não vai deixar. Já
comecei a estudar o caso.
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