sexta-feira, 22 de abril de 2016

OPINIÃO
DILMA NA ONU: CONSELHO E SUGESTÃO
DE DISCURSO

Jorge Béja

Nesta sexta-feira a presidente Dilma terá apenas cinco minutos para falar na Organização das Nações Unidas (ONU). O motivo da reunião é a questão do clima no planeta. Dizem que Dilma vai abordar o tema do encontro com poucas palavras e apenas de passagem. Um minuto, talvez. O resto do tempo, vai insistir na lengalenga de que está sendo vítima de um "golpe" no Brasil, assunto que os demais participantes do encontro não têm o menor interesse em saber, porque ninguém foi lá para ouvir isso, nem tratar disso e nem para ouvir o discurso de Dilma. Cuidado, Dilma. A senhora está procurando mais sarna para se coçar, como se dizia antigamente. Se concretizar mesmo esse propósito, poderá sofrer outro pedido de impeachment quando voltar ao Brasil. Desta vez por faltar ao decoro que a lei e a ética exigem de um presidente da República, por proceder de modo incompatível com a dignidade do cargo. E com a agravante de ter sido o despudor cometido perante o concerto das nações.

RECUE, POR FAVOR

Espera-se que diante da pública e veemente indignação de todos os setores da sociedade brasileira que a senhora ainda preside, que essa nefasta e ridícula determinação não vá adiante e que até chegar o momento do discurso a senhora volte atrás. Recue, por favor. Ñão piore o que já se tornou insuportável. E se limite a dizer na ONU o que seu governo fez para ajudar a solucionar o problema climático do mundo. Se é que fez mesmo. O desastre lá em Minas Gerais, por exemplo, exigia que o governo federal imediatamente cassasse a concessão dada à Samarco, conforme exigem a lei e a moralidade administrativa e até hoje nada foi feito. Mas se a senhora persistir no propósito de fugir do tema e abordar a lengalenga da defesa de que seu mandato que corre perigo de perdê-lo por causa de um "golpe" da oposição, então aqui vai um modelo, um rascunho, um ensaio para o seu discurso. É rápido, abrangente e verdadeiro. De certa forma não fugirá ao tema que é o "clima". Não, do planeta. Mas o clima que o Lula, a senhora e seus desastrados governos levaram o Brasil a viver. Ei-lo:

UM MODELO, UM RASCUNHO

"Excelentíssimo Senhor Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU. Excelentíssimos Senhores Presidentes, Chefes de Estado, Chefes de Governos e Diplomatas aqui hoje presentes. Lá, no Brasil, de onde venho e onde ainda sou a presidente da República, democraticamente reeleita, com mais de 54 milhões de votos, lá, o clima não anda nada bom para mim. Nem para o meu partido político que é o PT, o partido dos trabalhadores. E sabem por que o clima lá no Brasil não anda nada bom para mim, nem para o meu partido político que é o PT, o partidos dos trabalhadores? É porque a polícia federal e o Ministério Público Federal descobriram que minha campanha eleitoral foi sujíssima e financiada com o dinheiro da propina da corrupção. E a corrupção começou desde o ano de 2003, com o governo do presidente Lula, meu antecessor e meu criador. E no meu governo a corrupção ficou maior ainda, e hoje o Brasil está desmoralizado perante todas as nações. E sabem por que? Porque no meu governo e no governo do ex-presidente Lula, nós roubamos os cofres da Petrobrás, a maior empresa de petróleo do mundo. Roubamos também os cofres de outras empresas estatais. Lá no Brasil tem um juiz federal de nome Sérgio Moro. Tem também um promotor público federal, o Deltan Dallagnol e um outro de nome Carlos Fernando Lima que descobriram tudo. E sabem porque descobriram tudo? Porque eles são dedicados, não são corruptos e colocaram toda a minha gente na cadeia. E ainda tem muita gente minha que vai para a cadeia. Ainda não foram porque a Operação Lava-Jato, que é o nome dado à descoberta do esquema da corrupção, ainda não chegou ao fim e apenas 28 fases dela foram desencadeadas. E ainda faltam outras tantas.

CONTINUAÇÃO...

Nossos governos, o do ex-presidente Lula e o meu, corromperam e foram corrompidos. E sabem por que nossos governos corromperam e foram corrompidos? Foi porque para ganhar apoio do parlamento compramos os votos dos parlamentares com dinheiro vivo. E o dinheiro saiu dos cofres das empresas estatais. Senhoras e senhores, na minha última campanha eleitoral eu menti muito para o povo. Garanti que tudo no Brasil ia indo bem, que a economia estava ótima e sólida, mas na verdade tudo ia indo de mal a pior e já estávamos caídos e quebrados. Eu escamoteava, eu mentia. E a maioria do eleitorado, gente humilde e de bem, acreditava em mim. E depois que fui reeleita a verdade veio à tona: desemprego, programas sociais falidos, famílias e gente idosa ao desamparo, sem educação, sem atendimento hospitalar, sem segurança pública. A violência urbana se tornou gigantesca. As principais e conceituadas agências internacionais de classificação de risco, todas rebaixaram a nota do Brasil aos piores níves da história. E por causa disso, os estrangeiros que faziam aplicações no Brasil foram embora. E sabem porque tudo isso aconteceu e está acontecendo no Brasil? Tudo isso aconteceu e está acontecendo no Brasil porque não tratamos a coisa pública como pública, mas como se fosse privada e dela a gente fosse os donos.

ENCERRAMENTO

Senhoras e Senhores, já estou encerrando, o discurso e o meu mandato. Tinha e tenho muito mais coisa para confessar e delatar. Mas o tempo é curto. Daqui a pouco o senhor secretário-Geral Ban Ki-Moon corta o som do meu microfone. E eu não quero pagar mais esse mico. Afinal, seja como for, eu sou uma "mulher sapiens". Explico: tem o "homo sapiens" e tem também a "mulher sapiens", por que não?. E mais: encerro por aqui porque já estou ficando comprida demais. E porque, também, lá no Brasil já puxaram o meu tapete e eu já me considero carta fora do baralho. Muito obrigada.

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