OPINIÃO...
SOBRE
REIS E JUSTIÇA.
By Marcos
Ivan de Carvalho
Lembram-se
do Reizinho, aquele das histórias em quadrinhos?
Gordinho,
divertido, sorriso inteligente (subjetivo sob a longa barba), criação de Otto
Soglow.
Tinha um
reino o qual extrapolou as tiras dos periódicos americanos e ganhou páginas das
revistas de quadrinhos.
Breves
histórias, muitas sem a necessidade dos balões de diálogo, haja vista a
genialidade de Soglow em bem ilustrar cada situação.
Numa das
páginas, Reizinho está reunido com seu staff e observa como não havia
entendimento entre os camaradinhas que ladeavam a mesa encabeçada por ele.
Reizinho
chama seu cargo de confiança e pede para que providencie sua pasta de
documentos secretos. A pasta chega, reizinho a abre e retira diversas revistas
de quadrinhos e começa a ler o conteúdo das mesmas.
Mesmo
assim, Reizinho não empurrava as coisas com a barriga, apesar de ser obeso.
Por um
tempo, inclusive, foi parafraseado (ou parodiado) pelo comediante Jô Soares,
com críticas subliminares ao governo da época. Inclusive num dos quadros
levados ao ar pela Vênus Platinada (favor não confundir com “pra ti, nada”!),
Reijozinho
aborda a temática atualíssima sobre “mamar nas tetas do poder”. Com bigode ao
estilo Zé Sarney, o Reizinho do Jô era extremamente centralizador,
como muitos de hoje em dia. Algumas outras vezes, dava exemplos de “empurrar
com a pança” para ganhar tempo, fazendo as pessoas perderem tempo de reagir.
Empurrar
com a barriga seria próprio de reis obesos? Ou daqueles tantos centralizadores
desejosos de manter a rédea curta de seus guiados? O bridão do domínio
administrativo é perigoso, pois quando muito curto, pode provocar a ira de
tantos quantos estão sob a doma do aparente reizinho...
Daí, não
há domador (leia-se centralizador) capaz de conter a avalanche de problemas
surgidos com a revolta dos quais se imaginava domador dominador.
Nos
reinados, conforme consta, havia o Bobo da Corte (seria hoje nosso povo?), o
Camareiro Real, o Cozinheiro Real, o Armeiro Real. Todos, logicamente, cargos
de confiança. Ao Bobo, além de buscar alegrar o Rei, cabia – também segundo
informes de fonte fidedigna – provar os alimentos destinados ao Rei.
Seria
provar do próprio veneno?
Pois bem.
Pelas bandas de nossos tempos, há quem se exime de cumprir prazos, projetando a
barriga por sobre os direitos do povo, assumindo para si o direito de ser o
dono das escolhas, mesmo em se tratando de instantes quando a inabalável haste
horizontal da balança da Justiça não oscila para seu lado.
Quem
centraliza o poder não tem noção de como é estúpida a centralização, pelo
simples fato de ser foco único das demandas, das denúncias, das cobranças. Até
mesmo por parte de seus assessores, os quais se fiam da condição de confiados e
não desconfiam do espaço que seus pés têm do precipício.
A Justiça
é salomônica, ímpar, dando-se o direito de vedar seus olhos aos interesses
particulares, muitas das vezes não tão claros quanto à objetividade dos
envolvidos.
Quando
uma decisão justa é propagada, parece festa no galinheiro com a chegada de um
galo novo. Todas querem ser cortejadas, paparicadas, reivindicando para si o
direito de terem visto primeiro o novo “rei do terreiro”.
Durante
embates jurídicos, muitos daqueles assessores do Rei Centralizador se escondem
nas pirambeiras de seus interesses pessoais, não opinando para não tomarem
postura diferente da desejada pelo chefe.
Porém,
com o anúncio da decisão quando da causa julgada, trombetas do reino gritam
para anunciar que alguém de lá, se não o Rei, é autor da solução, “pai da criança”
e propaga as mentiras de tanto esforço supostamente desenvolvido para a solução
ser a anunciada.
Num reino
não muito distante, a espada da Justiça tem a tarefa de expurgar muitos
daqueles escolhidos pelo Rei. Na verdade, os servos mais humildes também
estariam na mira da mesma lâmina, por conta da falta de providências desde o
tempo no qual o rei não estava – ainda -contaminado pela centralização.
Era rei
novo.
Aliás, na
Idade Média, os senhores de castelos tinham direito à primeira noite de toda
jovem recém-casada. Era um costume, até mesmo uma espécie de ritual.
Agora,
atormentado por um grupo de oportunistas, falsos bem-intencionados, não deve
saber o que resolver para contrariar a decisão dos promotores da Justiça.
Vai dar
barrigadas, tentando expandir prazos? Com isso, certamente, haverá muita gente
disputando as tetas.
Se não
tiver mais argumentos para empurrar com a barriga, vai provar do próprio veneno
de quando ignorou o que era justo fazer: muitos de seu time não terão controle
emocional para suportar a pressão da espera no cumprimento de prazos e, pior
ainda, sem saber quem vai passar a última noite com o rei, já que a primeira
noite, na Idade Média, era a virgem recém-casada...
Atualmente,
os reis não se preocupam em obedecer aos costumes ditados pelas normas de boa
conduta e buscam, até, não deixar sobras para seus súditos. Passam o rodo em
tudo e todos que se danem. Tem valor quem estiver do seu e ao seu lado. Mesmo
quando a incompetência está gravada na testa ou nos procedimentos de seus
lacaios.
Muitos
outros se avizinham dos portais do reino, acreditando terem oportunidade de
sentar à mesma mesa, saborear do mesmo manjar e fazer parte do seus aparentes
líderes. Porém, lembrando mais uma vez, reis não abrem mão do poder. Esse
namoro acaba e muitos, sem terem a chance das tetas, terão o milho comido na
palma da mão real...
Ainda bem
que não vivemos num reinado e o povo pode votar, escolhendo seus líderes e não
seus carrascos. E o rei precisa tomar cuidado com seus franco atiradores, pois
a metralhadora está mirando para os pés e não para o alvo.
Existe
muita gente circulando pelos corredores do castelo real, sem noção de que um
simples gesto pode derrubar o senhor do trono...
Basta
saber denunciar e exercer seu direito de não mais ser simplesmente conduzido,
mas, sim, ajudar na construção...
Daí sim,
vale fazer festa a cada inauguração...
É a minha
Opinião.
Marcos
Ivan de Carvalho, jornalista independente, MTb 36.001
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