sábado, 25 de junho de 2016


OPINIÃO...
SOBRE REIS E JUSTIÇA.

By Marcos Ivan de Carvalho

Lembram-se do Reizinho, aquele das histórias em quadrinhos?

Gordinho, divertido, sorriso inteligente (subjetivo sob a longa barba), criação de Otto Soglow.

Tinha um reino o qual extrapolou as tiras dos periódicos americanos e ganhou páginas das revistas de quadrinhos.

Breves histórias, muitas sem a necessidade dos balões de diálogo, haja vista a genialidade de Soglow em bem ilustrar cada situação.

Numa das páginas, Reizinho está reunido com seu staff e observa como não havia entendimento entre os camaradinhas que ladeavam a mesa encabeçada por ele.

Reizinho chama seu cargo de confiança e pede para que providencie sua pasta de documentos secretos. A pasta chega, reizinho a abre e retira diversas revistas de quadrinhos e começa a ler o conteúdo das mesmas.

Mesmo assim, Reizinho não empurrava as coisas com a barriga, apesar de ser obeso.

Por um tempo, inclusive, foi parafraseado (ou parodiado) pelo comediante Jô Soares, com críticas subliminares ao governo da época. Inclusive num dos quadros levados ao ar pela Vênus Platinada (favor não confundir com “pra ti, nada”!),

Reijozinho aborda a temática atualíssima sobre “mamar nas tetas do poder”. Com bigode ao estilo Zé Sarney, o Reizinho do Jô era extremamente centralizador, como muitos de hoje em dia. Algumas outras vezes, dava exemplos de “empurrar com a pança” para ganhar tempo, fazendo as pessoas perderem tempo de reagir.

Empurrar com a barriga seria próprio de reis obesos? Ou daqueles tantos centralizadores desejosos de manter a rédea curta de seus guiados? O bridão do domínio administrativo é perigoso, pois quando muito curto, pode provocar a ira de tantos quantos estão sob a doma do aparente reizinho...

Daí, não há domador (leia-se centralizador) capaz de conter a avalanche de problemas surgidos com a revolta dos quais se imaginava domador dominador.

Nos reinados, conforme consta, havia o Bobo da Corte (seria hoje nosso povo?), o Camareiro Real, o Cozinheiro Real, o Armeiro Real. Todos, logicamente, cargos de confiança. Ao Bobo, além de buscar alegrar o Rei, cabia – também segundo informes de fonte fidedigna – provar os alimentos destinados ao Rei. 

Seria provar do próprio veneno?

Pois bem. Pelas bandas de nossos tempos, há quem se exime de cumprir prazos, projetando a barriga por sobre os direitos do povo, assumindo para si o direito de ser o dono das escolhas, mesmo em se tratando de instantes quando a inabalável haste horizontal da balança da Justiça não oscila para seu lado.

Quem centraliza o poder não tem noção de como é estúpida a centralização, pelo simples fato de ser foco único das demandas, das denúncias, das cobranças. Até mesmo por parte de seus assessores, os quais se fiam da condição de confiados e não desconfiam do espaço que seus pés têm do precipício.

A Justiça é salomônica, ímpar, dando-se o direito de vedar seus olhos aos interesses particulares, muitas das vezes não tão claros quanto à objetividade dos envolvidos.

Quando uma decisão justa é propagada, parece festa no galinheiro com a chegada de um galo novo. Todas querem ser cortejadas, paparicadas, reivindicando para si o direito de terem visto primeiro o novo “rei do terreiro”.

Durante embates jurídicos, muitos daqueles assessores do Rei Centralizador se escondem nas pirambeiras de seus interesses pessoais, não opinando para não tomarem postura diferente da desejada pelo chefe.

Porém, com o anúncio da decisão quando da causa julgada, trombetas do reino gritam para anunciar que alguém de lá, se não o Rei, é autor da solução, “pai da criança” e propaga as mentiras de tanto esforço supostamente desenvolvido para a solução ser a anunciada.

Num reino não muito distante, a espada da Justiça tem a tarefa de expurgar muitos daqueles escolhidos pelo Rei. Na verdade, os servos mais humildes também estariam na mira da mesma lâmina, por conta da falta de providências desde o tempo no qual o rei não estava – ainda -contaminado pela centralização.

Era rei novo.

Aliás, na Idade Média, os senhores de castelos tinham direito à primeira noite de toda jovem recém-casada. Era um costume, até mesmo uma espécie de ritual.

Agora, atormentado por um grupo de oportunistas, falsos bem-intencionados, não deve saber o que resolver para contrariar a decisão dos promotores da Justiça.

Vai dar barrigadas, tentando expandir prazos? Com isso, certamente, haverá muita gente disputando as tetas.

Se não tiver mais argumentos para empurrar com a barriga, vai provar do próprio veneno de quando ignorou o que era justo fazer: muitos de seu time não terão controle emocional para suportar a pressão da espera no cumprimento de prazos e, pior ainda, sem saber quem vai passar a última noite com o rei, já que a primeira noite, na Idade Média, era a virgem recém-casada...

Atualmente, os reis não se preocupam em obedecer aos costumes ditados pelas normas de boa conduta e buscam, até, não deixar sobras para seus súditos. Passam o rodo em tudo e todos que se danem. Tem valor quem estiver do seu e ao seu lado. Mesmo quando a incompetência está gravada na testa ou nos procedimentos de seus lacaios.

Muitos outros se avizinham dos portais do reino, acreditando terem oportunidade de sentar à mesma mesa, saborear do mesmo manjar e fazer parte do seus aparentes líderes. Porém, lembrando mais uma vez, reis não abrem mão do poder. Esse namoro acaba e muitos, sem terem a chance das tetas, terão o milho comido na palma da mão real...

Ainda bem que não vivemos num reinado e o povo pode votar, escolhendo seus líderes e não seus carrascos. E o rei precisa tomar cuidado com seus franco atiradores, pois a metralhadora está mirando para os pés e não para o alvo.

Existe muita gente circulando pelos corredores do castelo real, sem noção de que um simples gesto pode derrubar o senhor do trono...  

Basta saber denunciar e exercer seu direito de não mais ser simplesmente conduzido, mas, sim, ajudar na construção...

Daí sim, vale fazer festa a cada inauguração...

É a minha Opinião.


Marcos Ivan de Carvalho, jornalista independente, MTb 36.001

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