ONDE FOI QUE NÓS ERRAMOS?
A
maternidade é sonho de toda mulher. Tanto que o primeiro brinquedo é a boneca,
suposta filha. Do Homem, o primeiro sonho é ser Pai. O filho há de ser seu
orgulho... Melhor do que ele próprio!
Assim foi
quando Alexandre chegou para o casal João Bosco e Regina Célia Beraldo. A ele
todos os carinhos e afetos. Mas, desde cedo, Alexandre José de Souza Beraldo
demonstrou não ser uma criança normal. Era frágil. Sensível. Sempre doente.
Exigia cuidados... Até que em novembro de 1987, quando tinha exatos 7 anos, tão
freqüentes eram as infecções de garganta, que passou a submeter-se a tratamento
seguido, com injeções de Benzetacil. Mesmo assim, o quadro não evoluía para
melhora.
Os
médicos recomendaram exame profundo de especialista. O Otorrino pediu biópsia.
E, quando já definia a necessidade urgente de cirurgia, um último exame
constatou linfoma... O sonho de João
Bosco e Regina Beraldo virou susto! Alexandre, de apenas 7 anos, tinha câncer
na garganta!
A família
desolada seguiu a orientação de levar Alexandre, frise-se, aos 7 anos, para
o Hospital Regional, com o médico Flávio
Salgado. Mas como qualquer Pai ou Mãe, em busca do melhor para o filho, o casal
juntou todos os recursos que possuía para levar o garoto até a Capital. A
primeira consulta no Hospital A.C.Camargo foi a 18 de janeiro de 1988.
Magoados,
desesperados, mas sempre com muita fé e confiança na missão, certamente que
dada por Deus, o casal ouviu, ao final do exame, a triste confirmação de que Alexandre
padecia de Leucemia Linfoide aguda,
e, o pior: de alto risco.
Não
foi fácil deixá-lo sozinho, internado naquele hospital. Sim, porque ao tempo,
não era sequer admitida a presença de acompanhante. Foram 12 dias de
internação. Os mais longos 12 dias de nossas vidas. Alexandre chegou a ficar na
Unidade de Tratamento Intensivo. Depois passou por tratamento ambulatorial por
mais ou menos 5 anos, representando mais de 360 viagens, ida e volta, entre
Pindamonhangaba e São Paulo.
A
satisfação, no entanto, veio como milagre, quando em 1992, o médico deu alta a
Alexandre. Mesmo sabendo que a cada seis meses teríamos de retornar a São
Paulo, para saber se o câncer havia voltado! Mas, era a cura tão esperada se
avizinhando...
Aos
quinze anos de idade, supostamente curado, Alexandre começou a namorar. A vida
ia bem até que seu relacionamento, de dois anos, começou a fraquejar. Ao
terminar o namoro, Alexandre se abateu profundamente. Foi buscar consolo nas
drogas. Percebemos o comportamento estranho, e, aí observamos que ele passara a
se anestesiar da dor fumando maconha...
O
sofrimento voltou para todos nós. A família adoeceu junto com ele. Foram 10
anos de drogas, entre maconha, crack e bebida. Várias internações entre
dependentes químicos. Tentamos até uma
vacina experimental em São José do Rio Preto.
O pior,
entretanto, veio a 27 de junho de 2005. Recebemos telefonema da delegacia.
Alexandre estava preso por furto. Traficantes o obrigaram a conseguir dinheiro
para pagar pelo consumo de drogas. Ficou três meses na cadeia, saindo somente
depois, para responder o processo 000733271.2005.8.26.0445
em liberdade.
A
partir daí a vida foi muito mais difícil. Tentou trabalho, mas, tinha más
referencias policiais. Conseguiu atuar como servente de pedreiro, em subempreitadas
que não exigiam informações, mesmo dentro da Villares e da Confab. Também foi
cobrador terceirizado do “O Lojão” e da APAE. E, em outros lugares, como o Semar e o Erk Magazine, onde igualmente não
pediam comprovante de bons antecedentes criminais. Afinal, ainda que na rua,
estava respondendo processo.
Alexandre
sempre recaia. Se desfazia de tudo que conquistava: TV, som, bike, celular,
roupas, tênis... Chegou ao ponto de dar em pagamento na ‘boca’, a aliança da
mãe, corrente de ouro, dinheiro, etc... Na família ninguém agüentava mais a
situação. Pais, irmã, avós, parentes; todos já estavam no limite, quando surgiu
a idéia de comprarmos uma moto para que ele pudesse trabalhar de motoboy.
Tudo
parecia muito bem. Trabalhava na empresa Arruda Motoboy durante o dia, e, à
noite, para o Muvuca lanches, porém, depois de algum tempo, infelizmente
recaiu. Desapareceu por 5 dias. Retornou a casa todo sujo, machucado, rasgado,
com a dignidade abaixo de zero, como das outras vezes que isso acontecia. Dessa
vez, porém, sem a moto.
Foram
mais de 3 meses sem sequer sair do quarto. Levantava apenas para ir ao
banheiro. Ouvíamos quando sussurrava: "Não agüento mais essa vida. Não
quero mais viver assim. Não agüento mais ver toda a família sofrendo por
mim”... Foi quando assumiu perante todos
nós, que nunca mais faria uso de drogas.
Como
Pai, me enchi de coragem. Fui até a ‘boca’. Paguei a dívida e resgatei a moto.
Mas ela veio “depenada”, estragada! ... Consertamos! E tal era o carisma de
Alexandre, a qualidade de seu trabalho,
que, tanto a empresa Arruda, quanto a Muvuca Lanches, resolveram dar nova
oportunidade a ele.
Daí
decorreram 3 anos sem recaídas. Alexandre honrou o compromisso firmado com a
família e perante Deus! Recuperou a dignidade. Conseguiu trocar a moto antiga
por uma nova, que terminou de pagar mês passado, com o fruto do seu trabalho
honesto. Comprou seu próprio carro, conquistando um sonho. Já efetuou o
pagamento de mais de 40 prestações. Conseguiu comprar uma TV LCD, um
computador, roupa, tênis novos...
Nunca
poderíamos imaginar, no entanto, tanto ele quanto nós, que a assistência da
Defensoria Pública do Estado de São Paulo (própria ou delegada à OAB) não tinha compromisso com a fase recursal no
processo nº 000733271.2005.8.26.0445.
Alexandre, sem saber, ficou totalmente desassistido e indefeso. Com a dignidade
inteiramente recuperada, e, imaginando que tudo ia com a Justiça, exatamente no
dia de seu aniversário – 30 de outubro
de 2013; ganhou de presente, às 8 horas da manhã, a voz de prisão, dos policiais
que vieram à nossa casa cumprir o mandado de execução judicial.
Não houve recurso. Nós nem soubemos que
Alexandre estava indefeso. A Defensoria Pública do estado de São Paulo ou a OAB
em missão delegada pelo Estado, carro chefe da federação brasileira; nem para
avisar que não faria o recurso serviu. Nosso filho está preso. Não recorreu...
Será que o Estado, esse gigante irresponsável, vai destruir toda essa luta de
recuperação? A prisão pode melhorar ou detonar de vez a cabeça de Alexandre?
Continuamos
confiantes na justiça dos homens, inspirada pela Justiça do Criador, que nos
guiou até a ajuda, agora do Advogado particular Juliano Modesto de Araújo.
Estamos certos de que Deus ainda não terminou sua Obra, com Alexandre e
Conosco. Deu a ele a vida em liberdade, que será recuperada . E, a nós, o dever
de lutar por ele até a morte. Estamos certos de que somente com a família ao
lado, Alexandre manterá a dignidade recuperada a muito custo.
Amém!
Pindamonhangaba, SP, 07 de novembro de 2013.
João
Bosco Alves Beraldo
Regina Célia de Souza Beraldo