NO GOLPE DO BOLETO
BANCÁRIO FALSO O CONSUMIDOR
NÃO TEM CULPA E DEVE SER INDENIZADO
Jorge Béja
Vindo
de vigaristas do Exterior, o golpe do boleto bancário falso já entrou no
Brasil e a cada dia se alastra, causando prejuízos consideráveis para os
clientes-consumidores. A Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) reconhece que os prejudicados devem ir à Justiça
com pedido de indenização, mas não diz contra quem as ações judiciais devem ser
propostas. Ou seja, não indica quem é ou quem são os responsáveis. Então, vamos
apresentá-los aos nossos leitores, falar dos prejuízos e dos direitos dos
consumidores.
ONTEM E HOJE
Já se
foi o tempo do carnê, da nota promissória, do cheque pré-datado, e de
outros títulos mais para garantir o recebimento da prestação de uma venda feita
pelo comércio em geral. Comprar "no caderno", nem pensar. Era prática da época da
honestidade que não volta nunca mais. Talvez numa pequenina cidade do interior
do Nordeste o dono do armazém ou da quitanda ainda proceda
assim. Hoje é tudo no cartão. Tudo é pago na rede bancária. O
vendedor-credor contrata com o banco, fornece todos os dados
do comprador, o valor e quantidade (número) das prestações, o banco
emite o boleto, envia para o comprador-consumidor que vai ao banco e paga, o
banco recebe o dinheiro, repassa para o credor e assim vai... Esse é
o sistema básico do que, outrora se dizia "em carteira" ou "em cobrança bancária". O vendedor-credor colocava o título
(cártula) no banco e este procedia à cobrança, emitindo aviso ao
devedor chamando-o para pagar.
O GOLPE
Todos
recebemos em casa boleto bancário para pagar as compras e os serviços que
contratamos. Assim é com as prestadores de sinal de televisão a cabo, com os
planos de saúde, compras a crédito, internet, administradoras de
condomínios e mais uma infinidade de contratações e situações. E ninguém ---
pelo menos até a expansão do golpe --- coloca ou colocava dúvida na
autenticidade dos boletos. Eram verdadeiros. Eram para ser pagos, sem
desconfiança, sem medo. Hoje, não mais. O golpe do boleto bancário falso entrou
no Brasil, país hospitaleiro e fértil para as falcatruas, e se expandiu. O
consumidor passou a receber em casa um boleto perfeito, autêntico, boleto com
as cores e logotipo do próprio banco e onde tudo confere: nome completo do
devedor, endereço, cpf, valor da compra, valor da prestação, data do vencimento,
nome do vendedor-cedente, seu cnpj, bancos credenciados a receber, e o código
de barra, que é um caminhão de números seguidos, um ao lado do outro. São de 40
a 50 algarismos. É para ninguém ler. Só o leitor ótico do banco é que lê. Aí, o
consumidor vai ao banco, paga, o banco recebe, mas o dinheiro vai para outra
conta, que não é a conta do vendedor. Tudo porque aquele boleto era
falso. E quando o consumidor menos espera, a prestação do
serviço é suspensa, seu nome foi parar no SPC, SERASA, etc. etc....
CONTA-FANTASMA
Aconteceu
que aquela trilha no código de barras que identifica a conta que vai receber o
pagamento foi adulterada, em um, dois, três ou quatro algarismos. Talvez mais,
talvez menos. Aí o dinheiro vai parar na conta dos criminosos. E os
prejuízos, morais e materiais, para os consumidores são enormes. Quanta
patifaria!!. A FEBRABAN, conforme publicado nos jornais e lido na internet,
repudia o que está ocorrendo. Diz que os consumidores devem cobrar indenização.
Mas cobrar indenização de quem, FEBRABAN? Dos vigaristas?
DE QUEM É A RESPONSABILIDADE
Do
consumidor é que não é. A responsabilidade é solidária, do vendedor-cedente e
do banco. Apenas os dois é que têm os dados que permitem a confecção do boleto
falso. Ninguém mais. O banco (ou rede bancária) é um preposto, um longa manus, um
agente credenciado pelo vendedor-preponente para confeccionar os boletos,
enviá-los aos consumidores e receber o dinheiro. Ao pagar, o consumidor cumpriu
com o seu dever. Se o documento que recebeu em casa é fraudulento, o consumidor
não é o autor da fraude. Subscrevo, na íntegra, o que declarou o Delegado de
Polícia Dr. Eduardo Gobbertti, da Delegacia de Investigações de Estelionato de
São Paulo: "São pessoas que trabalham nas
empresas e têm acesso a informações ou que prestam serviços para elas, porque
só eles têm como adulterar e saber quando acontece o pagamento para substituir
o boleto original pelo fraudulento". Acrescento eu: todo consumidor é hipossuficiente e
vulnerável, conforme está escrito no Código de Defesa do Consumidor (CODECON),
que no próximo dia 11 de Setembro vai completar 24 anos de existência. Não se
pode exigir que o cliente-consumidor faça uma "perícia" no boleto bancário que recebe, antes de
quitá-lo no banco. Nem que vá à agência para saber antes se o documento
é ou não verdadeiro. Não são obrigações dos consumidores. São deveres
dos bancos e daqueles que contrataram os serviços bancários para realizar suas
cobranças. O STF já expediu a Súmula 297 afirmando que "O CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR É APICÁVEL ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS".
DANOS & DANOS
O
cliente-consumidor que cai nessa armadilha, que aos bancos incumbe impedir
que aconteça, vai ter muitos aborrecimentos. Quando receber o
ressarcimento judicial, ele já se aborreceu muito enquanto o processo tramitou
e o serviço não foi restabelecido. Há caso concreto de associado de plano de
saúde que pagou o boleto no banco e o dinheiro não foi creditado na
conta bancária (código de barra) do plano, mas na dos criminosos. Criminosos
que o banco conhece a conta (o código de barra) mas não identifica quem é. Nada
mais estranho. Muitíssimo estranho. Consequência: o atendimento
médico-hospitalar foi negado porque a prestação do plano não estava paga!!!
É
certo que um pedido de indenização na Justiça, contra o banco e o vendedor (os
dois sentados no banco dos réus, juntos) será acolhido. Ambos serão
condenados a pagar verba a titulo de dano moral, mais devolução da(s)
parcela(s) desviadas para os vigaristas, juros, correção, etc., etc,... Mas
será que por mais que seja expressiva a indenização o dano será ressarcido
mesmo? É claro que não.
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