"LEGADO
OLÍMPICO" É ENGANAÇÃO CONTRA O POVO
QUE,
INGÊNUO, ACEITA , APLAUDE E SENTE ORGULHO.
Jorge Béja
"Legado Olímpico" ou "Legado da
Olimpíada" é uma expressão mentirosa mas que desperta um sentido, uma
espécie de "presente", que aqueles que estão no poder incutem na
população do Rio, goela abaixo, e o povo acredita. E, por
ingenuidade, chega a sentir orgulho. Quanta enganação!.
Torpe e maldosa ilusão. "É muita patifaria! Legado Olímpico não
existe. Legado é um bem ou conjunto de bens, materiais ou
imateriais, certos e determinados, que integram o patrimônio de
uma pessoa que os deixa, como herança e por
testamento, para uma ou mais pessoas e constitui ato de liberalidade
"causa mortis" (em razão do falecimento). Quem lega chama-se legador.
Quem recebe o bem, legatário. E o bem deixado denomina-se legado. Há,
portanto, e necessariamente, três ou mais elementos: o legador, o legado e
o(s) legatário(s). Daí a pergunta: desde quando alguém
pode constituir como legado um bem que foi construído ou obtido com o
dinheiro do próprio legatário, ou seja, daquele designado para receber a
herança? É o que acontece com esse mal falado "Legado Olímpico"
ou "Legado da Olimpiada".
TUDO JÁ É DO POVO - Todas as obras, viadutos,
túneis, estádios (agora chamados de "arenas"), dezenas de
edificações residenciais, vias expressas, vila olímpica e tudo
mais foi feito com o dinheiro do povo. Logo, ao povo pertence. Nunca foi,
não é, nem nunca será legado. Seria legado se o Comitê Olimpico Internacional
(COI) junto com o Comité Olímpico Brasileiro (COB) fossem os que
construissem as obras e benfeitorias para receber os Jogos Olímpicos e,
após, as deixassem para o povo do Rio. Aí, sim, seria um legado. Mas não é
isso que acontece. E também não foi assim na Copa do Mundo de Futebol de 2014.
Não foi com o dinheiro do COI e do COB, muito menos com o dinheiro da
FIFA e da CBF, que os dois eventos mundiais tiveram o Brasil e têm a
Cidade do Rio de Janeiro como palco. Muito pelo contrário. O
honorabilíssimo COI escolhe uma cidade e a honorabilíssima FIFA
um país. Depois, dizem, autoritariamente: "arrumem a casa de vocês,
façam embelezamentos e obras nos padrões que nós queremos, mandamos
e determinamos que sejam feitos porque vamos realizar a Olimpiada e a
Copa do Mundo aí e depois pegamos todo o lucro com os eventos e
caímos fora e as dívidas ficam por conta de vocês". É isso. É
assim. É a realidade.
O QUE VIRÁ DEPOIS - Este "oba-oba"
olímpico tem prazo curto. Há uma espécie de entorpecimento do
povo que, empolgado e sem que os meios de comunicação alertem
e mostrem a realidade, tudo aceita, aplaude e acha
"excelente". O pior virá depois: o endividamento mostruoso. Vai
faltar dinheiro para tudo. O município e o Estado do RJ
(nem o governo federal) não têm receita, muito menos caixa
suficientes para realizar tantas obras, de afogadilho, sem o
posterior desfalque financeiro em prejuízo dos serviços que lhes cumprem
prestar à população. A começar pelo pagamento do funcionalismo, dos ativos e
inativos, atendimento médico-hospitalar, segurança pública, conservação e manutenção
dos meios de mobilização urbana... O povo do Rio só vai a sentir os efeitos
desses danos a partir de Setembro próximo e por longos anos.
DANDO O QUE NÃO PODE DAR - Para quem acredita no senador
Crivella, saibam o que disse ele anteontem na convenção do PRB que o
lançou à prefeitura do Rio: "A prefeitura carioca desembolsou R$40 bilhões
com obras executadas por empreiteiras envolvidas com a Lava-Jato. E após a
Olimpíada do Rio, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, com a Carvalho Hosken,
receberão sem ônus o terreno do antigo Autódromo de Jacarepaguá, para fazer um
megaempreendimento" (O Globo, 1.8.2016, página 4). É discurso de
candidato, sabemos disso. Mas a denúncia é gravíssima. E não veio desmentido de
parte alguma. A prefeitura não pode doar, permutar, vender, emprestar ou
praticar qualquer ato de despojamento de bens públicos sem prévia autorização
legislativa, seguida de prévia avaliação e licitação. A prefeitura também não
pode enganar a população. "Legado Olímpico" ou "Legado da
Olimpíada" é mentira. Não existe. Ninguém pode legar a si
próprio um bem que lhe pertence.
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